A Alma Empobrecida!

A pobreza não se limita somente a questões de escassez financeira; é muito mais abrangente e cruel. Sorrateiramente, ela se estende a questões internas de nossas vidas, alcançando o profundo e atingindo a alma, tornando-a infeliz e escassa.

Há uma pobreza que não se vê com os olhos, mas se sente com o coração. Ela não vive nas ruas, mas nos quartos fechados da mente. É a miséria da alma, um vazio que uiva como o vento que passa pela fresta de uma janela entreaberta assombrando nossos sentidos.

O filósofo dinamarquês do século XIX, Søren Kierkegaard, descreveu a infelicidade como um estado de desespero, que surge quando a alma se desconecta de sua verdadeira essência e de Deus. Para ele, o desespero não é apenas um sentimento de tristeza, mas a condição de uma vida sem propósito e significado, em que o indivíduo tenta preencher o vazio interior com o que é superficial e passageiro.

Essa visão se alinha com a realidade de uma alma empobrecida, que, privada de valores fundamentais como fé, amor e sabedoria, torna-se um deserto árido, incapaz de florescer. Assim como Kierkegaard propôs, o caminho para a superação desse estado reside na busca de um propósito maior e na reconexão com o divino, trazendo plenitude e renovação à vida interior. A alma que reencontra sua riqueza aprende a fazer do deserto um campo de flores.

A pobreza material se revela pela falta de recursos. Traz consigo a fome, doenças, miséria, falta de moradia, educação, saúde e diversos outros tipos de limitações, sejam elas físicas, cognitivas, emocionais, financeiras entre outras. Já a alma empobrecida se revela como um jardim abandonado: onde antes brotavam flores, agora crescem ervas daninhas. A mente, antes um campo fértil de criatividade, ideia e sonhos, agora está exausta e seca como um deserto.

A sociedade moderna tem unido e baseado a infelicidade e pobreza somente na falta de recursos financeiros, ou seja, “se eu tenho dinheiro os meus problemas estão resolvidos e sou feliz!” Só que não é bem assim, esse pensamento é enganoso, e a própria estrutura do sistema em que vivemos tenta nos vender essa verdade. A pobreza da alma também habita palácios!

O empobrecimento da alma não é sobre o que falta fora, mas sobre o que falta dentro. É fome de sentido, perda do propósito e desesperança no coração, tornando-o infrutífero e amargo.  É triste quando a infelicidade se apodera da alma fazendo-a perder o brilho e a força vital. É como se o rio interior se tornasse seco e fosse incapaz de irrigar e nutrir a vida ao redor.

A alma humana pode se tornar infeliz e pobre à medida que perde seus recursos e a energia tão essenciais para viver. A vida se torna desconexa e não há mais satisfação que possa preencher o vazio. É como se uma fonte parasse de jorrar água limpa e fresca.

Existe um convite àqueles que se encontram nestas condições e que precisam de mudança e transformação interior!

Há dois versos nas Escrituras que nos convidam a confiar no agir de Deus. Eles revelam o que Deus realiza em favor daqueles que colocam nEle a sua fé e esperança. O primeiro, declarado pelo profeta Isaías, diz: ‘Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas. Eis que faço coisa nova, que está saindo à luz; porventura, não o percebeis? Eis que porei um caminho no deserto e rios, no ermo.’ (Isaías 43.18,19). O segundo é uma promessa de alívio e descanso, feita de forma graciosa pelo próprio Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.” (Mateus 11.28).

O que fazer para sair dessa situação de escassez da alma? É muito importante ter uma visão interior realista da situação e, assim, adotar estratégias práticas e abrangentes.

Ações práticas que trazem recursos à vida:

  1. Faça uma autoavaliação sincera: Reserve um tempo para refletir sobre suas emoções, pensamentos e desejos. Identifique áreas em que se sente vazio(a) ou desconectado(a).
  2. Cultive momentos de silêncio: Desconecte-se da rotina e das redes sociais por um tempo para meditar, orar ou simplesmente observar a natureza. Esses momentos ajudam a reconectar-se com o essencial.
  3. Pratique gratidão diariamente: Anote pequenas coisas pelas quais você é grato(a). Isso ajuda a valorizar o que já possui e a nutrir a alma.
  4. Busque relacionamentos significativos: Cerque-se de pessoas que inspirem amor, fé e esperança. Partilhe seus sentimentos com quem pode oferecer apoio genuíno.
  5. Alimente sua fé: Leia a Bíblia, ore, participe de comunidades de fé e busque orientação espiritual para fortalecer o coração.
  6. Ajude o próximo: Engaje-se em ações que beneficiem os outros, como voluntariado ou ajuda a quem está em necessidade. O amor praticado enriquece a alma.
  7. Invista em sua criatividade: Dedique tempo a atividades que estimulem sua imaginação e tragam alegria, como ler, escrever, visitar um museu ou explorar hobbies.
  8. Peça ajuda quando necessário: Não hesite em buscar apoio de um profissional da saúde, terapeuta, conselheiro ou líder espiritual caso o peso da alma pareça insuportável.
  9. Afaste-se de pessoas, lugares ou situações que drenam sua energia: Identifique o que rouba sua paz e faz você se sentir infeliz e esgotado. Ao se afastar, você cria espaço para experiências que realmente edificam sua alma.

A escassez surge da falta de recursos, por isso é essencial interromper o fluxo que empobrece a alma, buscando constantemente, em diversas esferas da vida, aquilo que a renova e fortalece.

A saída dessa escassez está em buscar o alimento que a alma verdadeiramente anseia: amor, sabedoria, fé, compaixão. É preciso abrir os olhos para a beleza das pequenas coisas, para os sussurros da eternidade que ecoam no cotidiano.

de: Carlos Barabás

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Carlos Barabás
Carlos Barabás
Mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) Especialização em Neurociência e Educação Graduação em Ciências Sociais Formação Teológica Diretor da Lighthouse – Centro de Estudos Multidisciplinares
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